segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Se

E... Se eu fosse poeta, tantas feridas assim me cairiam bem
O sofrimento vivido me inspiraria e por fim, me contentaria
Se eu fosse poeta, o meu tempo bateria diferente dos outros, assim como meu coração
Seriam palavras, palavras e palavras em busca de perfeição
Se eu fosse poeta, minhas letras fariam sentido mesmo sem sentido, me agradariam
Me trariam gozo.
De sexo não precisaria. O sexo seria a mão. A mão seria a vida.
Se eu fosse poeta teria amado intensamente, me entregado, e cada víscera do meu ser amaria, desejaria, rastejaria...
Se poeta fosse teria sido amado também, de igual forma, que me custaria a vida um amor perdido
E me mataria, me mataria a cada dia escrevendo poemas de amor
E quando olhasse novamente para a janela, depois de muito escrever, me apaixonaria novamente
Porque até o sol, se eu fosse poeta, me encantaria
Assim como encantam os cabelos, os dedos e os olhos, daquele antigo amor
Se eu fosse poeta sentiria vergonha pela minha felicidade, que seria alheia
Não me regozijaria com novos amores, me mataria cada dia por cada um.
Sofreria eternamente enquanto durasse o cheiro da flor antiga para em seguida me deliciar com outra flor, de aroma diferente, de folhas e forma distintas e raras até certo momento
Se fosse poeta, teria intimidade com as letras, com minha língua e com a língua dos amantes.
Me deliciaria a cada palavra escrita, ao invés de me crucificar por cada texto mal talhado
Se fosse poeta, me agradariam estas palavras e este poema seria dedicado a alguém.
Alguém que espera um poema. Alguém que espera um poeta.
Mas eu não sou poeta.
E se fosse.
Se.

Tamanha dor seria bela.

sábado, 4 de abril de 2009

fragmentos sem sentido

Esse lance de existir ele ou ela atrapalha bastante a escrita.
Talvez devesse existir um êla ou éle. Alguma categoria que inclua os andrógenos, ou os que não estão em nenhuma categoria. Não que realmente eu esteja reivindicando a não permanência em nenhuma destas, mas a verdade é que às vezes meu alter-ego não pretende ser nem mulher, nem homem. Às vezes, penso começar como mulher, mas quando vejo já virei um velho, depois não sou nada, só vento. E então... Fico à deriva. Mas a licença poética pelo menos me permite ser eu mesma. Ou me permite pra qualquer coisa. Coisa que é difícil de se conseguir. Fico feliz por a literatura não ser, ou ter deixado de ser, tão convencional, quanto a minha mãe. Ultimamente, tenho percebido um fingimento da parte dela, em acreditar na minha inocência dos 10 anos. Eu nem penso em desacreditá-la, afinal, é até bom se sentir pura, às vezes.

Isso realmente pode estar parecendo um diário. Mas não é não. Aqui quem vos fala, sou eu. Alguém desprovido de amigos, parentes, irmãos. Alguém completamente só. Aquilo que você entende por um leão, em uma selva gigante. Dono apenas da sua área. E com pretensões de ser grandioso. Que nada! Apenas, só. Grande em sua solidão. Grandioso em si mesmo. Porque ele se basta. Alguém assim, realmente deve ser de uma prepotência tamanha, que realmente merecesse esse destino. Mas os outros animais da selva não percebem o truque. A juba é só um artifício pra disfarçar sua falta de coragem em se socializar. Seus dentes, pra assustar. Sua boca gigante não serve para falar. Mudez completa. Pretensão guardada e engolida.
Orgulho ferido, só não pela fama, que o precede.

terça-feira, 17 de março de 2009

Verme contra-ataca.


Realmente fica difícil não ter um verme na cabeça... Verme chamado tédio. Tedius Vermis. Nome científico. Cientificamente provado que mata. Mata por dentro. Começa no estômago, tira a fome, dá ânsia de vômito e, enfim, vômitos. Vai subindo pro coração. Seu coração aperta. Você pensa que algo vai acontecer, que vai ter um enfarto, mas não. É só o verme esfaqueando seu coração. Daí então, quando não combatido, chega à cabeça. Enfim, começa o verdadeiro drama. Ele ataca os neurônios, as sinapses e tudo o mais que você aprendeu em neuroanatomia. Seu cérebro vira bosta de verme, vômito de verme e, enfim, óbito de verme. Porque nem mesmo o verme agüenta a lerdeza da sua mente. Nem mesmo o verme tolera a sujeira dos seus pensamentos. Nem mesmo o verme consegue lidar com tanta poluição. Vive alguns dias. E você pragueja contra ele, xinga, mas tudo sem volta. Ele já foi diagnosticado. Vai morrer dentro de você. Vai virar defunto junto com você. Você tenta ignorá-lo, mas até defunto ele te persegue. A podridão é oportuna. Basta bater um vento. Basta bater uma brisa. Basta dar um tapa no cigarro. E ele, o verme, te agarra com todas... Todas as forças de um defunto. Todas as formas de um verme. Todas os septos, aracnídeos, anelídeos, fungos e todo o reino animal te levam pra baixo. Assim como a gravidade...

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O sofá


Levanto do sofá, vou em direção a cozinha, lavo a louça que me espera, prometo um café. Levanto do sofá, sento em frente ao computador, alguém me liga, converso no telefone por 5 minutos e... Levanto do sofá, volto à louça, já estava lavada e não fui eu que lavei, prometo um café. Levanto do sofá, dessa vez não só prometo o café, como começo a prepará-lo, o telefone toca, atendo, converso durante cinco minutos. Levanto do sofá, discuto que da próxima vez vou lavar a louça, já que ninguém quer o café. Dessa vez, não atendo ao telefone. Levanto do sofá, levanto do sofá, levanto do sofá. Atendo ao telefone, 5 minutos, tomo um café. Não lavo a louça. Levanto do café, tomo um sofá, atendo o computador, discuto com o telefone. Levanto do café, sento no computador, discuto com os cinco minutos, atendo o sofá. Não lavo o sofá dessa vez. Atendo o café. Sento no telefone. Deito no sofá. Ainda não acordei. Tenho que lavar a louça, entrar no computador, atender ao telefone e fazer o café. Ainda não acordei, quero acordar, mas só fico levantando do sofá, preparando o café, e atendendo o telefone. Estou presa, atendo-levando-tomo-discuto. Amxamencmdaoams akajoasax sasoaja oss aosjsasajaosja as. Estou presa... AAAAAAAAh! – Vem lavar a louça!!!!

É, agora eu acordei!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009



Eu estive presa alguns tempos, eu sei. Alguns esperavam meu ressurgimento há anos. Mas eu fiquei presa. Na verdade, ninguém esperava um retorno, isso deve fazer parte de mais uma fantasia minha. Na verdade, ninguém da a mínima. Aliás, me diz o que é isso, se não um monte de baboseiras. Me diz o que é isso, se não um monte de vômito sublimado...Me diz o que é isso, se não um grande alimento do ego??? O poeta nunca quis morrer... Eu o fiz ressurgir, quem o soltou foi a solidão. Que ironia... Essa que prende, amarra e encadeira. Que irônica solidão. Essa que liberta prendendo... Essa que acaricia odiando. Nada mais que vômito sublimado. Choro engatado... Nada mais que falta de amigos e carícias. Nada mais do que sexo mal amado... Nada mais do que traição... Traição da esperança. A esperança é a primeira que mata. Alimenta e desnutre... Desidrata. È por isso que vivo desfomeada ou esfomeada. E tanta gente precisando de comida... Tanta gente fazendo guerra e tanta gente... Não dando a mínima!!!

sábado, 3 de maio de 2008

Amores sujos.



Acordar pela manhã e ver toda aquela sujeira espalhada. Ela não imaginava o quanto teria que esfregar e esfregar daquele chão maldito. O tanto que teria que limpar e enxugar. O tanto de groselha e farelo que teria que retirar. Um amor sujo dormiu em sua cama. Amor mal tratado. Com ele, baratas e ratos vinham. Com ele, lama e esgoto. Sem ele, nada. Vinho derramado, escorrendo da cama. Pingando ainda. Vinho fresco e vermelho. Azedo. Frascos espalhados. Aroma de festa mal terminada. Dark room. Dark heart. Ao seu lado, um amor mal dormido, mal cozido. Comido às pressas. Mal lavado e fedido. Em suas unhas a sujeira, em sua língua o amargo, arrependido. Em sua garganta, o gosto ultrapassado. Em seus olhos, a desgraça. O amor mal amado em sua frente. Em sua boca, falsa. Suja. Um amor de segunda, de primeira. Assim, SEM sujeira a MAIS, NEM sujeira a MENOS.

Foto em http://www.deviantart.com/

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Mar morto


Aqui minha mente que fala, os meus restos e cada osso triturado. As minhocas que comem meus últimos pedaços. Aqui quem fala é minha memória póstuma, minha língua cortada e meus olhos fechados. Minha boca seca e cheia de vermes terrestres ou marinhos. Deixaram-me morrer, só. E é só, que sinto. Na companhia de restos, vermes e minhocas. Talvez estas me entendam tão bem como nunca alguém me entendeu. Exceto minha memória póstuma ou a de curto prazo, fora isso, nunca tive companhia na vida. Refugiei-me, sem encontrar saída. E alguém pra me acolher, pra não me deixar morrer, sozinha... Para se importar, pra fazer com que me importe. Um alguém sequer, pra me entender. E me fazer falar, sem compromissos e sem desculpas. Sem cobranças. Alguém que respirasse meu sentimento e comesse da minha vida, sem pagar a conta, sem enxaguar a fragrância. Alguém ao menos que completasse o resto do coração que me falta, o resto da saliva que me sobra, pra eu engolir e não me engasgar com tamanha solidão. E que eu nunca precise falar... Adivinhar e não jogar no lixo o único símbolo que ainda cultivo. Morri em uma praia-a-meia-lua, em um dia negro, negro como o dia que pensei renascer... Jogaram-me no mar, como pensei ser meu destino. Lançaram-me como pedra nas ondas e elas não me reconheceram... Jogaram-me fora, abandonaram-me na praia, sem motivos, sem razões, sem RESPEITO! Sem pudor. E assim fui esquecida... De símbolo, virei água para outras ondas (lagos, poços e cachoeiras, mas principalmente lágrimas). De vida, virei morte. De esperança, virei desilusão. E aqui estou eu, a ser comida pela minha própria solidão, que usa das garras da morte para me fazer menos viva a cada dia... A cada hora, a cada minuto... A cada praia. A cada lua.

Foto em http://www.deviantart.com/print/127279/